Este rosto tem 25 anos. Um corpo de 25 anos. 25 anos de vida. Uma vida de 25 anos. E muitas perguntas, muitos "nadas", atropelos, preguiças, nãos, sims, músicas, não-músicas, danças, movimentos voluntários/involuntários, sonos, causos, risos, sorrisos, só risos... Incontáveis acontecimentos, muitos por vezes esquecidos, lembrados e relembrados, revividos.
Hoje eu tenho vinte e cinco anos de vida e isso me faz pensar que a cada dia é mais um dia perto de alguma coisa que eu não sei o que é, e cada dia mais distante do meu ponto de partida inicial. E eu vou olhando pra trás e me distanciando, indo pra um lugar que é perdido e pode ter uma chave lá, ou a chave está nas minhas mãos? Ou amarrada ao meu pescoço? Ou escondida no meu bolso nu?
Às vezes eu imagino que o tempo tá acabando. Sempre tenho a sensação que o tempo tá acabando, mas não é o tempo, não é a natureza... sou eu, admito que sou eu. Eu estou acabando a cada dia. E já estou vinte e cinco anos terminada e começando todo dia. Todos os dias que acordo, que abro os olhos no escuro, são dias que recomeçam e que se vão efemeramente. As coisas fluídas só passam e deixam em mim fluidez; as solidez parecem rígidas, na verdade só deixam fluidez. E tudo, e todos, vão passando e adorando este rosto, este corpo, esta alma de vinte e cinco anos. E tudo e todos compõem esta vida de vinte e cinco anos.
É... parece simbólico vinte e cinco anos, mas já parei pra pensar que é a metade dos cinquenta, próximo dos trinta, e trinta tá ali perto de quarenta. E lá se vai uma vida baseada em números e matemática pura, física quântica e química visível. Sou um corpo feito puramente de assuntos que não me agradam. Meus cabelos estão ficando cada vez maiores, minhas medidas maiores, minha pele se trocando a cada novo dia, momento. Meu rosto não é liso, nem sem manchas, e quanto mais o tempo passa, mais meu corpo sente, de forma matemática, numerosos traços de rugas, pintas do tempo, do Sol, da luz artificial, da água que me banha, dos alimentos que como (nada muito saudável). E, enfim, assim se faz um rosto, um corpo, de vinte e cinco anos.
Eu olho as minhas fotos de infância e penso "como essa criaturinha conseguiu sobreviver a tudo isso!? olha que olhar e sorriso sem malícia, sem dor, só existe!" Só existe. E há dor? Um corpo de vinte e cinco anos sem dor? Um rosto de vinte e cinco anos sem dor? Que vigor!
Na verdade o peso da idade pesa... É redundante mesmo, sem correções. Não há tempo para correções, nem para SEs. Tenho gastado muito tempo dormindo, pensando, deixando pra depois. E quando vai ser o momento de agora? Eu estou vivendo? Acho que acho que sim... Da minha maneira. Julguem quem quiser; falem quem quiser; briguem quem quiser; essa é a minha vida de vinte e cinco anos e já que você já gastou a sua, não queira intervir na minha. Deixa eu me encontrar sozinha, mas combino contigo que se quiser me dar uma pista de onde está a chave eu aceito. Não sou tão esperta assim pra encontrar sozinha...
Há quem pense que sou uma lesma, e qual é o problema em ser uma lesma? Eu sim sou uma lesma, meu tempo é meu e não quero que ele se torne seu. Faça do seu um tempo bom e deixe que o meu eu sei com o que/como/onde/quem gastar. "Eu não tô fazendo nada e você também".
Aliás vinte e cinco anos são muitos tempos pra gastar com o que for. Se for (mais uma vez a matemática) enumerar posso dizer a mim que não foram gastos em vão. O que me perturba mesmo é ter perdido com coisas ou pessoas que me fizeram gastar a toa. Tempo não se gasta assim!
Com vinte e cinco anos deve-se usar para novas propostas. Mas me diga, que propostas são essas!? Ah, sim! Claro! Aquelas que tu expõem pra todo mundo! Sim, essas. Então, que tal começar a utilizar seu tempo com práticas concretas? Para construir uma casa? Não! Concretas, realizáveis. Achei que tu, com vinte e cinco anos, já pudesse pensar por si mesma; realizar seus planos meio malucos.
Pois é, mas o que é que falta pra começar a pôr em prática as suas vontades de realizar as coisas pequenas e boas que vão mudar um pouquinho o mundo ao redor, a sua contribuição pra sociedade como criaturinha formada em algo. Menina de vinte e cinco anos você está meio sem créditos. Dizem por aí que tu faz coisa se que não faz: atriz sem atuar, cantora sem cantar, professora sem lecionar... Menina de vinte e cinco anos com aquele rosto parece que você é a própria fraude dos mundos extrahumanos. Não! Eu não disse nada disso. As pessoas só gostam de criar coisas a respeito das outras.
Sabe que eu acho (acho mesmo porque não estou a pé de ter certeza das coisas) que vinte e cinco anos é a idade de muitas descobertas, de novos desafios. É uma pena que as pessoas que já gastaram seus vinte e cinco anos não possam mais revivê-los a ponto de pensar ser uma atriz sem atuar. Eu atuo todos os dias e não sou uma falsa atriz. Eu canto o melhor e mais bonito pra mim e para quem quiser ouvir. Sou a estrela do meu próprio céu. A rainha do meu inferno. Sou a mulher de vinte e cinco anos que se diverte sozinha consigo mesma e não precisa mostrar pra alguém. Porque eu sou louca e isso não precisa ser visível pra quem queira ver.
Eu me desafio, me proponho, me divirto, me invento, me acaricio, me mordo, me sinto, me permito, me me me me me quero.
Não, não quero me queiras, só aceite isso como um presente pra ti. Vinte e cinco anos. Sabe de uma coisa, eu te amo todo dia, seja você numericamente mais nova ou mais velha, com aquele rosto ou com o de uma criança, porque tu és a melhor pessoa que me acompanham.
Com amor.